Cientistas estimam que cerca de um terço dos solos do planeta Terra estejam degradados ou sofrendo algum grau de degradação

Solo fértil (Imagem Embrapa)

Cientistas preocupados com a degradação dos solos explicam a importância desse fator para a qualidade da vida na Terra e desenvolvem um método para os agricultores obterem um Índice de Saúde do Solo (ISS) nas propriedades rurais.

“Atuando como regulador na emissão de gases e como local de armazenamento de carbono, os solos têm papel fundamental para que seja possível desacelerar o processo de aquecimento global e mudanças climáticas, além de combater um dos maiores desafios da humanidade no século: a insegurança alimentar. Então um solo saudável, do ponto de vista químico, físico e biológico passa a ser um aliado importante da humanidade”, esclarece o professor Maurício Cherubin, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

O solo desempenha múltiplos papéis no ambiente, incluindo o suporte para o crescimento das plantas, de onde são colhidos grãos, biomassa e fibras, e também atuando como o maior reservatório de carbono da terra, fator que o transforma em um elemento crucial na luta contra as mudanças climáticas. Além disso, o solo abriga uma rica biodiversidade e mais de 50% das espécies conhecidas do planeta passam toda ou parte de suas vidas nesse local. Conforme o docente, esses espaços também são responsáveis pela ciclagem de nutrientes e pela regulação do ciclo hidrológico, meio fundamental para a filtração e purificação da água. Dessa forma, Cherubin ressalta que os solos trazem benefícios importantes para a produção agrícola e para a manutenção da vida humana.

Restauração de solos degradados

Como avaliar a saúde do solo

Conforme o docente, a avaliação da saúde do solo não é uma tarefa simples e a metodologia empregada precisa levar em conta os fatores a serem analisados. Do ponto de vista químico, os fatores que podem degradar o solo incluem a acidificação, salinidade, poluição e contaminação desses locais. Para essa metodologia, são empregadas análises de rotina que avaliam os teores de nutrientes, acidez e a capacidade de troca de cátions, que observa a capacidade do solo de reter nutrientes e se associar ao carbono.

Sob o ponto de vista físico, Cherubin avalia as principais formas de degradação de solos a erosão, compactação e selamento superficial. Para a análise sob essas circunstâncias, são utilizadas metodologias que abrangem indicadores de taxa de infiltração de água, condutividade hidráulica, porosidade do solo, compactação e densidade.

“Por fim, biologicamente, as principais ameaças se dão pela perda do carbono e da biodiversidade do solo. Talvez o indicador mais importante que temos é o carbono, mas também podemos avaliar os organismos, ou seja, a abundância, riqueza e diversidade dessas espécies. E dentro desse grupo nós temos aqueles organismos de maior tamanho, chamados de macrofauna, os de tamanho intermediário, a mesofauna e, finalmente, os microrganismos”, avalia.

De acordo com a professora Simone Cotta, também da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, outro fator determinante para os altos índices de degradação do solo é a atividade humana, especialmente as práticas agropecuárias e exploratórias. Na Caatinga, por exemplo, o pisoteio do gado utilizado nas práticas pecuárias está causando aceleramento na desertificação do espaço. Conforme a docente, o deslocamento do gado em áreas de pastoreio pode causar danos profundos, levando à degradação de até 50% da funcionalidade do solo, causando alterações em processos fundamentais para o seu bom funcionamento.

Analise do solo (Imagem Fabiano Bastos Embrapa)

Ambos os pesquisadores, apoiados e financiados por diversas instituições públicas e privadas, desenvolveram uma estratégia de avaliação de saúde do solo chamado Kit SOHMA, que utiliza sete indicadores físicos, químicos e biológicos. O kit inclui um passo a passo para execução no campo, acompanhado de um livro físico e um e-book. O usuário pode registrar os resultados e calcular um índice de saúde do solo, que varia de 0 a 1, em que 0 indica solo muito degradado e 1 representa máxima performance. O cálculo pode ser feito manualmente ou por meio de um QR Code, que envia automaticamente os resultados para o e-mail do usuário”, revelam.

Por Julio Silva*
Do Jornal da USP

Saiba mais em: https://mst.org.br/2024/10/21/solos-saudaveis-combatem-a-inseguranca-alimentar-e-mitigam-os-efeitos-das-mudancas-climaticas/

Acesso ao  KIT SOHMA: https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1311

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