Planta nativa, a Macaúba é redescoberta à luz da biotecnologia do século XXI

Como uma palmeira muito antiga na vida do brasileiro, que ocorre em praticamente todos os biomas, está se tornando objeto de estudos e pesquisas de muitos grupos de cientistas envolvendo instituições como a Embrapa, universidades brasileiras e empresas privadas, incluindo startups. Os públicos-alvo são principalmente investidores, empresas agrícolas, agricultores familiares e o público em geral.
Cachos do fruto da Macaúba (imagem Embrapa)

Como uma palmeira muito antiga na vida do brasileiro, que ocorre em praticamente todos os biomas, está se tornando objeto de estudos e pesquisas de muitos grupos de cientistas envolvendo instituições como a Embrapa, universidades brasileiras e empresas privadas, incluindo startups. Os públicos-alvo são principalmente investidores, empresas agrícolas, agricultores familiares e o público em geral.

Segundo Alexandre Alonso Alves, Chefe-Geral da Embrapa Agroenergia, a dormência e a taxa de germinação eram os principais obstáculos ao melhoramento e à produção de mudas em larga escala para viabilizar os plantios comerciais, mas agora, não são mais empecilhos. A superação do gargalo da quebra de dormência e da germinação das sementes foi um importante passo saltando de uma taxa de 5% de germinação natural para mais de 80% em prazo reduzido e uniforme.

Para os pesquisadores Simone Palma Fávaro, Agrônoma, doutora em Ciências de Alimentos, pesquisadora da Embrapa Agroenergia e José Dilcio Rocha, Engenheiro químico, doutor em Engenharia Mecânica, pesquisador da Embrapa Territorial, a macaúba é uma palmeira nativa das zonas tropicais e subtropicais do continente americano, desde o México (latitude 20ºN), passando pela América Central e pelo Caribe até Paraguai (23ºS), Bolívia e Argentina. No Brasil, é encontrada nos biomas Cerrado, Mata Atlântica, Amazônico, Pantanal e na região do semiárido.

O desenvolvimento de uma nova cadeia produtiva da macaúba trará ao País uma fonte eficiente de óleo vegetal com altas produtividades e baseada em espécie nativa, além da produção de biomassa celulósica e ração.

Macaúba (imagem Sindicato Rural de Pindamonhangaba – SP)

Na forma artesanal com pequenos produtores, a macaúba é usada para diversas aplicações em todos os países de ocorrência natural. No âmbito industrial, há um largo espectro de usos já existentes e outros potenciais que envolvem indústrias de alimentos, de cosméticos, de fármacos, oleoquímicos e de biocombustíveis. Segundo Simone e José Dilcio, o uso em Sistemas Agroflorestais, em regime de consórcio com a pecuária carbono neutro e o uso do óleo vegetal para a produção de biocombustível de aviação, irá conservar os recursos naturais e promover as comunidades envolvidas nessa nova cadeia produtiva.

Óleo da Macaúba pesquisado nos laboratórios da Embrapa

O óleo da polpa serve para a produção de biodiesel e outros biocombustíveis, para o consumo humano, frituras, cosméticos e insumos químicos. O óleo da amêndoa tem usos em alimentos, cosméticos, químicos, farmacêuticos e para a síntese de bioquerosene.

Estimativas mostram que em um hectare de macaúba pode-se produzir 20 toneladas de frutos e render até três mil dólares em produtos derivados, isso sem contabilizar o PSA (Pagamentos por Serviços Ambientais)  e os créditos de descabonização para os produtores.

A cadeia produtiva da macaúba no Brasil

No Brasil, especialmente no estado de Minas Gerais, já houve uma extensa exploração da macaúba que remonta ao início do século passado. No entanto, não ganhou tração suficiente para se estabelecer de forma perene, dizem os pesquisadores.

Em seus estudos relatam que embora ainda seja um desenvolvimento embrionário e emergente, essa nova cadeia produtiva da macaúba no Brasil apresenta crescimento sustentável e de grande potencial. “A exploração antiga, baseada exclusivamente no extrativismo, está partindo para um novo patamar. O diagnóstico atual indica que a macaúba está finalmente entrando num ciclo virtuoso da bioeconomia, tanto pelo plantio e suas etapas agronômicas, incluindo a produção de mudas com elevada capacidade germinativa das sementes, quanto pelo seu processamento industrial. Existem vários atores atuando nas diversas etapas. A necessidade de manter os maciços naturais como fonte de material genético e como floresta natural a ser preservada sempre será um objetivo fundamental, assim como a sua exploração extrativista deverá continuar em paralelo com a produção em florestas plantadas. ”, avaliam os pesquisadores.

A macaúba plantada em Sistemas Agroflorestais

Destacam ainda algumas empresas e organizações que vêm trabalhando por uma nova cadeia produtiva da macaúba no Brasil.

1.    Empresa Soleá, que originou uma startup, a S.Oleum. Em parceria com a Acrotec  e a Universidade Federal de Viçosa fundou a Rede Macaúba de Pesquisa A Remape, um portal que divulga os avanços científicos e tecnológicos. A S.Oleum é uma AgTech e CleanTech brasileira dedicada ao reflorestamento e à restauração de áreas degradas e de baixa produtividade, usando sistemas agroflorestais com Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (ILPF) integrada com macaúba e outras espécies nativas e interligada a arranjos produtivos locais (APLs) do tipo clusters bioindustriais.

2.    A empresa Inocas tem a missão de transformar a macaúba na principal fonte de óleos vegetais do mundo e, para isso, conta com uma equipe de profissionais multidisciplinar, com habilidades nas áreas de agronomia, políticas públicas, indústria e consultoria agrícola e ambiental, disposta a utilizar suas competências para fazer avançar a cadeia produtiva da macaúba no Brasil.

3.    A Acros é uma empresa derivada do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com experiência de mais de onze anos nos estudos com a palmeira macaúba. Trabalha no desenvolvimento de processos e produtos desde a fase agrícola até a fase industrial da cultura da macaúba. Suas áreas de negócios são assistência técnica do plantio à colheita; tecnologia da produção de mudas de macaúba com qualidade genética e rastreabilidade em larga escala; identificação, seleção e recombinação de matrizes de genética superior para fornecimento de sementes, etc.

4.    A Cooperativa de Agricultores Familiares e Agroextrativista Ambiental do Vale do Riachão Ltda. – Cooperriachão e a Associação de Pequenos Produtores Rurais de Riacho D’antas e Adjacências estão localizadas município de Montes Claros, Norte de Minas Gerais. Foram fundadas em 2009. Ambas as organizações operam uma Unidade de Beneficiamento de Coco Macaúba – UBCM, para gerar renda aos pequenos produtores, e de preservação ambiental no Vale do Riachão. A Cooperriachão tem 46 cooperados e trabalha com cerca de 350 famílias extrativistas de macaúba.

Com informações da Embrapa: https://lp-cnpae.comunica.embrapa.br/macauba

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