Vamos falar dos números da felicidade?

A felicidade é um bem público, já que todos os seres humanos a almejam. Ela não pode ser deixada exclusivamente a cargo de dispositivos e esforços privados. Se o planejamento governamental, e, portanto, as condições macroeconômicas do país, forem adversos à felicidade, esse planejamento fracassará enquanto uma meta coletiva. Os governos precisam criar condições conducentes à felicidade, na qual os esforços individuais possam ser bem-sucedidos.
Butão (imagem Ciclovivo)

A felicidade é um bem público, já que todos os seres humanos a almejam. Ela não pode ser deixada exclusivamente a cargo de dispositivos e esforços privados. Se o planejamento governamental, e, portanto, as condições macroeconômicas do país, forem adversos à felicidade, esse planejamento fracassará enquanto uma meta coletiva. Os governos precisam criar condições conducentes à felicidade, na qual os esforços individuais possam ser bem-sucedidos.

Uma discussão internacional sobre formas mais inteligentes de medidas da qualidade de vida vem ganhando corpo e forma mundo afora. Estamos falando de indicadores que definam e comparem o grau de desenvolvimento econômico sustentável entre nações, estados, municípios, empresas, organizações, grupos e até mesmo comunidades. Esse novo paradigma é capaz de orientar as políticas públicas, de forma participativa, em prol do desenvolvimento econômico com equilíbrio ambiental – medir o que mais almejamos: o bem-estar social e sustentabilidade ambiental, não apenas, e tão somente, o crescimento econômico (a produção de bens e serviços), como é feito hoje, cujo indicador é o PIB – Produto interno Bruto.

Estudos científicos têm comprovado que além de um certo nível mínimo de renda, a maior felicidade nos agrupamentos humanos provém de fortes e abundantes conexões sociais, ambientais, espirituais, psicológicas e emocionais – uma sensação de controle sobre sua vida, um trabalho significativo, boa saúde, segurança econômica básica, confiança nas outras pessoas, bem como outras oportunidades menos conectadas com o valor monetário de um sistema que põe preço em tudo em nossas vidas, menos em nossa felicidade.

A história tem início na década de 70, quando o rei do Butão, um pequeno país do Himalaia, declarou que não mediria mais as riquezas de seu território por meio do PIB (Produto Interno Bruto), mas, sim, pela FIB, ou seja, a Felicidade Interna Bruta de seus habitantes.

Nessa época, a ideia soou como loucura, especialmente para os nossos parâmetros ocidentais.

No entanto, com o passar dos anos, o conceito começou a fazer mais sentido e espalhar-se, de forma mais consistente, por diversos outros territórios.

Na verdade, o conceito tem um peso filosófico, que defende que a riqueza material não é sinônimo de felicidade. Mas esse não é o único objetivo da FIB, ela também é responsável por medir o esgotamento de recursos naturais, cuidados no âmbito familiar e uso do tempo com inteligência e de forma equilibrada. Sendo assim, uma nação ou um grupo podem ser produtivos, com ganhos elevados, porém, não necessariamente felizes.

A FIB norteando a elaboração de políticas públicas

Paulatinamente o FIB passou a ser considerado um indicador de vida, mas também ganhou espaço no mundo corporativo, no qual muitos gestores perceberam a necessidade de promover a felicidade e o bem-estar de seus colaboradores.

Felicidade é um bem público, porém subjetivamente sentido. A felicidade é, e deve ser, um bem público, já que todos os seres humanos a almejam. Ela não pode ser deixada exclusivamente a cargo de dispositivos e esforços privados. Se o planejamento governamental, e, portanto, as condições macroeconômicas do país, forem adversos à felicidade, esse planejamento fracassará enquanto uma meta coletiva. Os governos precisam criar condições conducentes à felicidade, na qual os esforços individuais possam ser bem-sucedidos.

A política pública nasce dos anseios da população e é orquestrada pelos poderes constituídos, nas esferas municipal, estadual e federal, sendo necessária para educar os cidadãos sobre a felicidade coletiva. As pessoas podem fazer escolhas erradas, principalmente se induzidas pelo marketing inescrupuloso e pelas falácias midiáticas, que por sua vez, podem desviá-las da felicidade. Políticas públicas bem planejadas podem lidar com tais problemas, e reduzi-los, impedindo assim que ocorram em larga escala.

A FIB no mundo

A preocupação mundial de se repensar os modelos econômicos, que consideram apenas o crescimento econômico para o cálculo da riqueza, para modelos que considerem aspectos como a conservação do meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas, faz com que a FIB seja analisada e adotada por muitos países.

A ONU realizou a primeira reunião de alto nível, em abril de 2012, sobre o tema Felicidade e Bem-Estar: Definindo um Novo Paradigma Econômico por iniciativa do Butão, que reconheceu a supremacia da felicidade nacional sobre a renda nacional e adotou a meta da Felicidade Nacional Bruta, acima do PIB; a reunião foi presidida por Jigme Thinley, o primeiro ministro do Butão.

O 7º Relatório Mundial sobre a Felicidade (2019) concentra-se na felicidade e na comunidade: como a felicidade evoluiu nos últimos 12 anos, com foco nas tecnologias, normas sociais, conflitos e políticas governamentais que impulsionaram essas mudanças.

Conforme o Relatório, a Finlândia é o país mais feliz do mundo, seguida pela Dinamarca, Noruega, Islândia e Holanda, Suíça, Suécia, Nova Zelândia, Canadá e Austrália. Enquanto o Sudão do Sul, República Centro Africana, Afeganistão, Tanzânia, Ruanda, Iêmen, Malaui, Síria, Botsuana e Haiti aparecem como os países que têm populações mais infelizes.

Em 2022, o Brasil aparece em 32º lugar no ranking da FIB, tendo caído quatro posições desde o relatório lançado em 2021. Já em 2024 nosso país caiu para 44 º lugar. Considerando o índice que avalia o grau de felicidade para a população de até 30 anos de idade, estamos no 60º lugar (*).

Isso mostra que a aceitação mundial da FIB foi ampla, pois grande parte dos países a aceitam e usam como uma forma de medir a qualidade de vida de sua população.

Projetos FIB no Brasil

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD concedeu ao Instituto Visão Futuro, de São Paulo, por meio de sua representante Drª. Susan Andrews, a coordenação da implementação do Projeto FIB no Brasil e América do Sul. Segundo ela, o Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) mostrou como um caminho viável para proporcionar o desenvolvimento sustentável no Brasil.

Após um projeto piloto inicial ministrado na cidade de Angatuba, no interior de São Paulo em 2008, dois outros projetos piloto foram conduzidos em 2009. Um em Itapetininga – SP, e outro em Campinas-SP, o último em parceria com a Unicamp. E além desses dois projetos piloto, um terceiro, numa versão destinada a  potencializar a atuação de responsabilidade socioambiental no setor privado, foi desenvolvido para ser aplicado na Natura Cosméticos – a primeira empresa no mundo a trabalhar o conceito FIB empresarial.

Segundo Roberto Ramalho Tavares, prefeito de Itapetininga-SP, o FIB tornou-se uma importante ferramenta de gestão de políticas públicas que promove a participação popular, mobiliza a inteligência coletiva para pensar e avaliar o bem-estar em suas múltiplas dimensões, ou seja, ser protagonista da sua própria história, conforme a legislação vigente, considerando a qualidade de vida como fator primordial.

São quatro os pilares que baseiam o cálculo do índice e foram elaborados em nove domínios:

PILARES:

•       Boa governança: determina as condições nas quais as pessoas prosperam;

•       Desenvolvimento socioeconômico sustentável: deve valorizar as contribuições sociais e econômicas das famílias, o tempo livre e o lazer;

•       Preservação e Promoção da Cultura: desenvolvendo resiliência cultural;

•       Conservação ambiental: acredita-se que o meio ambiente contribui para estímulos estéticos e outros que podem ser diretamente curativos para pessoas que apreciam cores e luz vivas, brisas puras e silêncio no som da natureza.

 DOMÍNIOS

•       Padrões de vida

•       Educação e Saúde

•       Meio Ambiente

•       Comunidade

•       Vitalidade

•       Uso do tempo

•.      Bem-estar psicológico

•       Boa governança

•       Resiliência e promoção cultural

E ainda de acordo com esses 9 domínios, o Butão desenvolveu 38 subíndices, 72 indicadores e 151 variáveis, usados para analisar a felicidade do país.

Fonte: https://www.gov.br/gestao/pt-br/assuntos/inovacao-governamental/cinco/cinforme/edicao-7-2024/felicidade-interna-bruta

“… quaisquer que sejam as metas que tenhamos – e não importa o quanto essas metas mudem neste cambiante mundo – em última instância, sem paz, segurança, e felicidade, nada temos. Essa é a essência da filosofia da Felicidade Interna Bruta. Eu também rezo para que, enquanto for o rei de uma pequena nação no Himalaia, possa, durante o meu reinado, fazer muito para promover o maior bem-estar e felicidade de todas as pessoas neste mundo – de todos os seres sencientes. ” Majestade o Rei Jigme Khesar, discurso de abertura da V Conferência Internacional do FIB, Brasil 2009.

Saiba mais sobre a FIB em: https://base.socioeco.org/docs/artigo05.pdf

(*) Confira os indicadores mundiais em:

https://worldhappiness.report/ed/2024/happiness-of-the-younger-the-older-and-those-in-between/#ranking-of-happiness-2021-2023

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia também

Solução para acabar com os crimes ambientais está na Constituição

Nossa Constituição definiu por meio do artigo 186 a função social da terra ao afirmar que ela é cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente a alguns requisitos, como a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis, a preservação do meio ambiente e a observância da legislação trabalhista. Com isso ela delegou a seu guardião maior, o Supremo Tribunal Federal, a responsabilidade por zelar pela sustentabilidade de nossos biomas.  

Leia mais »
No subsolo da floresta, esconde-se uma intrincada rede de comunicações que alguns já compararam à internet das árvores. É uma complexa teia de raízes de plantas e fungos que, embora invisível aos nossos olhos, é essencial à vida e ao armazenamento de carbono.

Como as Reservas Naturais podem conservar a biodiversidade sem prejudicar o crescimento econômico local

As áreas protegidas, como as reservas naturais, podem conservar a biodiversidade sem prejudicar o crescimento econômico local, contrariando uma crença comum de que a conservação restringe o desenvolvimento. Um novo estudo com base em informações do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) do Imazom (*) descreve o que é necessário para a conservação para beneficiar tanto a natureza quanto as pessoas.

Leia mais »
plugins premium WordPress